Faz tempo que não escrevo. Na verdade eu nunca escrevo. Mas hoje tava difícil escolher um texto. Eram tantos a tentar falar tudo o que eu estou sentindo que nenhum conseguiu. Aprender a viver com a falta que pessoas importantes, pilares mesmo, que fizeram parte da sua vida, da sua história, e que, por algum motivo se foram, é difícil... muito difícil... E é nessas horas que você entende que precisa tirar forças de dentro de gavetas tão profundamente escondidas que você nem lembrava que existiam. E no meio dessa dor, dessa angústia que às vezes chega a te cegar, você tem a impressão de ouvir o canto de um pássaro... ou o riso de uma criança. Mas é tão leve, tão sutil que te confunde, que te assusta. Que no meio da solidão você não sabe se ouviu mesmo ou se é só a sua imaginação. Mas mesmo assim te dá uma pontinha de desejo de que seja sim, uma chaminha. E que talvez se transforme em fogo... ou que talvez não. Que fique como está pra que não assuste mais. Afinal, pode ser mesmo só impressão. Às vezes, no escuro, o tato se engana. Daí a confusão fica completa. E essa confusão dá nó na garganta, faz chorar e faz sorrir. Faz temer e esperar, esquecer e desejar... Luiza, um dia, disse: “a vida é agridoce”... Acho que estava certa. É, como estava... Acho brega tudo o que eu escrevo. Por isso não escrevo nunca. Mas hoje, nenhum texto ia conseguir traduzir tudo o que eu tô sentindo... só o meu... mesmo brega. Talvez porque eu também seja brega. E só esteja descobrindo isso remexendo essas tão profundas gavetas...
Ila - 25 de abril de 2006