26 março 2007

sozinha com a minha grande felicidade [F.K.]

Vinte e sete. 2+7=9. Nas cartas do tarô: o Eremita. O Eremita quer ficar só. Não que eu leve muito a sério cabalas, astrologias e etc a ponto de guiar por isso a minha vida, mas por coincidência ou não faz muito sentido com o atual momento.

Depois de um bom tempo voltei a gostar de fazer aniversário. Acho que estou re-significando esta data. E certamente muito dessa re-significação passa pelo meu momento de vida. Poucas vezes [talvez nenhuma] estive tão plena de mim mesma. Tão feliz com o que sou. Tão realizada com a imagem refletida no meu espelho. E acho que isso tem a ver com ficar só. Morar só, dormir só, comer só... e nem de longe esse “estar só” passa por mim como solidão. Não. O sentimento é outro. E eu não saberia explicar e muito menos você [qualquer você que esteja lendo] conseguiria compreender. Como diria a Clarice, me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir... é que cada vez mais percebo que nos momentos vazios realmente gosto da minha companhia. E isso é tão aconchegante e tão completo, que me preenche.

O mais surpreendente é que, ainda que esteja só, estou cercada de grandes e valiosos amigos, que também foram fundamentais pra fazer deste o melhor aniversário dos últimos tempos. E que me fazem reafirmar uma frase [de um desses grandes amigos] que tem sido o mote da minha vida ultimamente:
“Não troco meus amigos por nada”.

E pra finalizar esse post de comemoração de idade nova, casa nova e vida nova, só ela poderia fazer isso com chave de ouro. Recebi de um outro grande amigo [parênteses para mais uma vez agradecer a presença deles na minha vida] e achei que tudo combinava com tudo. Divido aqui este encontro de combinações. Deleite-se!

“Querida Ila em seu aniversario achei este poema, não nas cores de Frida mas nas emoções de Clarice. Parece que escreveu sabendo que hoje, e apenas hoje, 23 de março de 2007 ela falava para você... Felicidades!

'Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como plenitude. Faça com que eu seja a tua amante humilde, entrelaçada a ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de te amar, sem odiar as tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços o meu pecado de pensar.' [Clarice Lispector]"




Ila - 23demarçode2007

15 março 2007

A poesia é uma arte moribunda. Ainda assim não escrevo prosa. Não por falta de amor, mas por falta de reciprocidade. Um dia, quem sabe, ela deixa de ser prosa e me dá uma chance.

OK, procurando minha certidão de nascimento (ironia das ironias) encontrei este escrito a lápis numa página esquecida de um velho caderno. Tenho uns cadernos com bobagens escritas, mas suspeito que tudo aquilo que me constrói não é uma bobagem qualquer. É A Bobagem, com b maiúsculo e cheiro de história. Vamos ao escrito...

" Me deito de sapatos acordo sem sonhos. Nem durmo, abro os olhos. O chiado da TV me examina. Me vê sem pecados e absolve. Começa a programação matutina. O botão num flash apaga e silencia. Estou só. Medo. Meus olhos se aquecem. Lágrimas. Acho que estou doente. Sinto cheiro de crisântemos. Levanto. Me vestiria se não estivesse pronto. Seco o que está molhado. É preciso deixar tudo pronto. Esta casa não é mais minha. Nem dele. Jogo sem esperança os objetos nas malas. Me arrasto numa pressa sem rumo. Acho que está pronto. Não olho pra trás. Fecho a porta sem chaves, nada há que possa ser roubado. Os mortos nada levam, aos enterrados nada importa. Uma felicidade tonta e burra me invade. Prozac. Vou em direção ao automóvel. As parcas coisas despejo no porta-malas. Lembro que ironia o carro meu que não sei guiar. Onde estava com a cabeça? Prozac. Volto pra dentro e disco números vazios. Vem o taxi. Pronto. Gentilmente o velho faz a transfusão de malas. As tranqueiras ficam apertadas num porta-malas menor e nem por isso ganham mais importância. Por quê as levo? O automóvel eu deixo, só um morto saberia guiá-lo."

Não sei quando escrevi isso, só sei que meus dedos coçam (e nem sei pra que serve Prozac, graçasadeus).
j

08 março 2007

estou feliz
e poeta feliz é analfabeta
nada escrevo que mereça leitura
se não cuido começo a rimar

j