15 março 2007

A poesia é uma arte moribunda. Ainda assim não escrevo prosa. Não por falta de amor, mas por falta de reciprocidade. Um dia, quem sabe, ela deixa de ser prosa e me dá uma chance.

OK, procurando minha certidão de nascimento (ironia das ironias) encontrei este escrito a lápis numa página esquecida de um velho caderno. Tenho uns cadernos com bobagens escritas, mas suspeito que tudo aquilo que me constrói não é uma bobagem qualquer. É A Bobagem, com b maiúsculo e cheiro de história. Vamos ao escrito...

" Me deito de sapatos acordo sem sonhos. Nem durmo, abro os olhos. O chiado da TV me examina. Me vê sem pecados e absolve. Começa a programação matutina. O botão num flash apaga e silencia. Estou só. Medo. Meus olhos se aquecem. Lágrimas. Acho que estou doente. Sinto cheiro de crisântemos. Levanto. Me vestiria se não estivesse pronto. Seco o que está molhado. É preciso deixar tudo pronto. Esta casa não é mais minha. Nem dele. Jogo sem esperança os objetos nas malas. Me arrasto numa pressa sem rumo. Acho que está pronto. Não olho pra trás. Fecho a porta sem chaves, nada há que possa ser roubado. Os mortos nada levam, aos enterrados nada importa. Uma felicidade tonta e burra me invade. Prozac. Vou em direção ao automóvel. As parcas coisas despejo no porta-malas. Lembro que ironia o carro meu que não sei guiar. Onde estava com a cabeça? Prozac. Volto pra dentro e disco números vazios. Vem o taxi. Pronto. Gentilmente o velho faz a transfusão de malas. As tranqueiras ficam apertadas num porta-malas menor e nem por isso ganham mais importância. Por quê as levo? O automóvel eu deixo, só um morto saberia guiá-lo."

Não sei quando escrevi isso, só sei que meus dedos coçam (e nem sei pra que serve Prozac, graçasadeus).
j

Um comentário:

Anônimo disse...

Uau! Que troço intenso. Gostei. Já disse outras vezes, não entendo disso mas acho que você faz bem.

Beijo Bonita!