24 dezembro 2006

2006!

Estive tentando organizar minhas gavetas, meus armários e afins. E isso serviu pra que me desse conta do quanto meu ano foi intenso – como eu. Entre os achados e perdidos encontrei bilhetes e trabalhos de alunos, resumos de livros, lembranças de viagens, fotografias, presentes que ganhei e vestígios do que perdi. Sim, este foi um ano de muitas perdas – algumas irreparáveis – e de muitos ganhos. Muitos sorrisos e muitas lágrimas. Um ano de muitas fotos para guardar de recordação.

Nesse ano descobri o que eu quero fazer para o resto da minha vida. E descobri também que em mais um ano poderei mudar radicalmente de idéia. Essa sim, foi uma grande descoberta: o vento muda as marés e faz com que nossos destinos mudem de direção. E aprendi também que é importante contar com isso quando fizer novos planos. As rotas sempre podem ser alteradas e às vezes só nos damos conta disso quando é tarde para fazer a volta. Mas até isso pode ser interessante, porque nesse ano que passou aprendi também que, embora “esperar não seja saber”, as surpresas que os novos rumos nos reservam podem ser muito agradáveis. Mesmo que depois elas também sejam alteradas. É, no decorrer dos doze meses que se passaram, pude perceber como a vida é surpreendente! Como, em apenas um aninho, podemos passar por tantos aprendizados.

Mas fazendo um balanço desse ano, acho que ele começa a entrar pra lista dos mais positivos da minha vida até hoje. Vejo que fiz um bom trabalho com meus alunos e minhas colegas, alcancei objetivos traçados há tempos, conheci pessoas maravilhosas, me aproximei de outras que ajudaram a me transformar como pessoa e ganhei de presente outras tantas que guardarei bem dentro de mim, em local seco e arejado para que não criem bolor. Aprendi também a viver em paz com o que se passou em anos anteriores.

E acho que consegui ser completamente fiel aos meus sentimentos. Nesse ano comecei a descobrir quem eu sou, do que eu gosto, o que eu quero. E que não importa o quanto mude a maré, os planos, os rumos, as surpresas, meus “quereres” e “gostares”: se eu estiver inteira e em paz comigo, com meus sentimentos e com a minha verdade interna, conseguirei sair ilesa do olho do furacão. Fatalmente com alguns arranhões, uns mais fundos e outros nem tanto, marcas que servirão de lembrança e darão boas histórias pra contar nos próximos anos. Mas no fim, acho que conseguirei rir de todas elas; ou pelo menos olhá-las com carinho pela certeza dos frutos colhidos ainda que em meio a tempestades.

No fim das contas, concordo com o Drummond: “Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente”.

Seja bem-vindo, 2007!



Ila - 22 de dezembro de 2006.

18 dezembro 2006

o que me aflige é o não
que calado paira
a cicatriz
memória da ferida
ainda tenra e rubra
coça
permanece
perturba

o que me aflige é a dúvida
que lacuna a vida
a falta
vaziúra da fé
silenciosa e dormente
dói
constringe
espreita


o que me move é o sim
que calado paira
a tatuagem
memória do sorriso
ainda quente e úmido
consola
costura
abraça

o que me aflige é não estar segura
nunca
nowhere
ninguém

quero crer e por isso espero
quem sabe um dia
aqui
contigo

j
(não gostei deste escrito, um dia o revisito
o sentimento não gostei também, mas deste rasguei o endereço)

01 dezembro 2006

run 2006 run

{2006
corre seu filho da put*
senão te pego e acabo com a tua raça
e como sou compassiva
te dou um mês de vantagem
num mês sem falta
onde tu estiveres
te cuida comigo}

agressiva não, vingativa.
j

12 setembro 2006

(...) E quase me sinto consolada quando penso que tenho fé. E acho que essa dor tem que ser vivida até o fim; na alma, na carne, na pele e nos ossos. E tudo o que eu posso fazer é acreditar que um dia vai mesmo ter fim. Que um dia não
vai mais doer. E desejar que esse dia chegue logo!(...)



:.Ila.:
[PS: não, não estou com dor, apenas divagando...]

26 agosto 2006

de feliz sorriso gargalhava
em saber que tu me amas
não em saber por si
que bem sabido não satisfaz a alma
mas em sentir arder o peito não só na caminhada

quando me amas me apaixono
que ficas lindo
que ficas nobre
que ficas quem realmente és meu sonho
que vivi desperta
amei completa
e adormeci de espanto
(hibernação)

mas então acordei e por isso gargalhava
e rodopiava de abertos braços ao vento louco
pois chegas tu tu mesmo
e por detrás me segura apoia e ergue
e para a frente
voo feliz
contigo
à casa

j

22 agosto 2006

"Nesta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana". (Citação de um outdoor no trajeto do aeroporto de Havana)


*____________________________________________________*


Em tempo: enquanto namoro com meu tempo, aproveito pra me informar mais sobre o que acredito!
Citação: Frase inicial de um artigo muito bom que li em um sítio que já recomendei aqui antes:
http://www.adital.com.br

Quem quiser ler o artigo na íntegra, sim, defendendo o Fidel e a Cuba Socialista (que não cabe a mim somente, balisar se é bom ou não, mas que, segundo minhas "referências bibliográficas" às quais tenho muito respeito, funciona) clique aqui:
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=24016

15 agosto 2006


*Entre as minhas portas, as de dentro e as de fora, as abertas e as fechadas, é que eu me encontro. E é delas que eu faço o meu dia-a-dia. Para as abertas olho com esperança, com desejo e com vontade. Para as fechadas, com saudade, nostalgia, carinho... entre elas está o que eu sou, o que eu fui e o que eu serei. E nesse misto de desejo e saudade, vontade e carinho, nostalgia e esperança é que se vão construindo os corredores do meu castelo. Castelo que ora me aprisiona, ora me liberta. Que num dia me abre as portas para o lado de fora, e desenha um universo de possibilidades, sob o mais belo e brilhante dos raios de sol. Mas que, se não tomo cuidado, também me prende do lado de dentro, atrás da pesada porta da masmorra dos meus pesadelos. Preciso olhar para as portas. Sanidade mental é conviver com os fantasmas sem que eles te assustem. E nesse universo, entre as minhas portas, as que se abrem e as que se fecham, as do lado de dentro e as do lado de fora, é que eu estou buscando todos os dias a minha sanidade mental.
(Livremente inspirado na música "Do Lado de Dentro" - Los Hermanos)


Ila - 14 de agosto de 2006

25 julho 2006

a esperança não é uma palavra
é uma promessa
uma deidade de semi-certeza
e suspiros
e sonhos
e algodão doce

é a anti-matéria
feito sorvete abrindo espaço
na pança repleta

é gravidade zero
é travesseiro de plumas
é banho de espuma

a esperança não é a última que morre
é a primeira que nasce
e fênix que renasce

é gás nobre que preenche o espaço
entre tu e eu
entre nós e o mundo
a esperança não é uma palavra
é uma ponte

j

11 julho 2006

o meu sentir é um espasmo involuntário
sinto tudo
sinto todo
e meu corpo trôpego
pulsa a caimbra
de antena
que capta
absorve
incorpora o etéreo
olho grita
boca chora
materializa
o eu emtrês sou uma
acordo trêmula
mas viva

(e o pulso ainda pulsa e o penso ainda pensa e a alma ainda almeja)
j

10 julho 2006

(meus alunos do ano passado, do bairro da Tapera no Sul da Ilha, durante um passeio no Parque Ecológico do Córrego Grande)



Ultimamente tenho me sentido “colocada à prova” todos os dias. Não sei bem como explicar o que estou querendo dizer. Sei apenas que tenho ainda muito o que aprender. Tenho muito o que ler, saber e refletir sobre a realidade do meu povo, do meu país, e principalmente das minhas idéias.

Nasci em uma família esquisita. Acho que todas as famílias são esquisitas, em maior ou menor grau. Mas de alguma forma meus pais me passaram alguns valores dos quais não consigo, e nem quero, me desvencilhar. Me ensinaram que eu devia “fazer o bem sem olhar a quem”, que devia aprender a ter opiniões formadas sobre tudo o que via ou lia, que ser “marginal”, estar “à margem”, nem sempre quer dizer ser “criminoso”.

Também estou desiludida com o atual governo. Também fico me perguntando o que aconteceu com todos os meus sonhos, a minha fé e a minha “esperança de vencer o medo”. Estou decidida a votar nulo nessa eleição. Porque acredito que pelo menos a minha consciência ninguém pode me tirar. Por mais decepcionada que possa estar, ainda não consigo me arrepender de desde sempre ter sido eleitora do PT.

Estive lendo o blog do jornalista Reinaldo Azevedo. “A vanguarda da direita”. E por mais que tenha me sentido uma estúpida por não conseguir formular nenhuma frase inteligente pra postar no seu blog, dizendo o quanto o acho [pausa... não encontro adjetivo que não seja ofensivo] senti uma necessidade absurda de reencontrar as minhas raízes.

Quando penso no rumo que quero para o meu país, não consigo pensar em outra coisa senão nos movimentos sociais, nas lutas de base, no contato direto com o povo. Ok, já entendi que o povo não toma as rédeas da situação se não por intermédio dos “intelectuais da classe média burguesa”. Mas se essa classe média burguesa está preocupada em promover a vida do povo, é com ela que eu estou. É do lado do Frei Betto, é do lado do MLST, é do lado do Movimento Sem-Teto, da Via Campesina. Estou do lado dos ataques à Aracruz. Estou do lado dos manifestantes que quebraram ônibus. Sim! Eu aprendi que às vezes é necessário estar à margem. Nas minhas veias corre um sangue que não acredita na elite, que não acredita na direita, que não acredita no capitalismo. Sei que pode parecer um tanto hipócrita essa minha afirmação considerando que, quem me conhece um pouquinho só sabe que sou viciada em Coca-Cola. Feio, né? Sim, horrível. Financiadora da Guerra do Iraque. Talvez depois de escrever esse texto eu sinta tanta vergonha que não tenha mais coragem de beber sangue iraquiano engarrafado.

Mas ainda assim eu preciso voltar ao que acredito. Eu preciso voltar no tempo, quando tinha meus 15 anos e li pela primeira vez a carta que uma prima minha (mais velha um pouco, prima da minha mãe, na verdade) escreveu, em 1972, de dentro do Pavilhão Feminino do Presídio Tiradentes, onde estava presa e havia sido torturada mais de uma vez, por acreditar que a forma como a classe dominante, a “democracia cristã”, como ela mesma coloca, levava o nosso país ao “progresso” alijava o povo brasileiro de qualquer decisão e perspectiva de futuro. Acho que foi ali que alguma coisa dentro de mim mudou de cor. E desde então eu não consigo acreditar que a “direita” desse país possa ter boas intenções quanto ao futuro do seu povo.

A realidade dos meus alunos, jovens e adultos excluídos da sociedade, os marginais, que não aparecem nos posts de um Reinaldo Azevedo, que só aparecem nos jornal nas páginas policiais (não, ninguém imagina como doeu meu coração quando vi a foto de um dos meus melhores alunos preso por porte de drogas e armas) me faz ter cada vez mais certeza disso. É mais fácil criticar o governo do que olhar de perto o que acontece com o povo. Não venha me dizer que era neles, nos meus alunos, que o Reinaldo Azevedo estava pensando quando “denunciava” que o patrimônio do Lula, do Marcus Valério ou do José Dirceu dobrou nos últimos quatro anos. (Reinaldo Azevedo é um. Foi o que deu azar de desencadear tudo o que eu estou sentindo. Da página dele fui abrindo muitas outras que só me deram mais medo e raiva...)

Não tenho as respostas, muito menos as soluções. Não tenho grandes vocabulários ou grandes argumentos fantásticos pra contrapor a notável inteligência de um Reinaldo Azevedo. Sim, é inegável, ele é muito inteligente e realmente escreve muito bem. Mas sei, porque meu coração me garante, e porque a realidade salta aos meus olhos cada vez que entro nas minhas salas de aula, que essa inteligência não advoga em favor do povo. E isso é o que mais me entristece. Sinto que estas pessoas são muito mais competentes em fazer valer a sua “política”. A direita trabalha – e isso é histórico, sempre trabalhou – muito melhor. E eu realmente acredito que é por isso que hoje esse país está do jeito que está. Longe de mim vestir o Lula e o PT com um manto de idoneidade e inocência. Muito menos de bondade. Aliás, eles só comprovam o que eu falei logo acima: a esquerda, infelizmente, é muito mais incompetente que a direita. Tanto que eu nem sei se já não se extinguiu.

Num país como o nosso é muito difícil definir em que posição eu me encaixo, pois nenhuma delas faz o que prega. Mas sei que eu estou na posição de alguém que verdadeiramente espera nunca precisar cogitar a hipótese de dar um voto de confiança para a “elite” brasileira. Tomara que eu nunca morda a minha língua.


Sugiro o sítio: http://www.adital.com.br
Ila - 10 de julho de 2006

03 julho 2006

aos que amei

Hoje eu queria escrever um texto especial. Para pessoas que, por diferentes motivos, não estão fazendo parte da minha vida neste momento... tenho me dado conta de que a vida é assim; cíclica, dinâmica. As pessoas, as coisas, vão e vêm. Como diria Drummond, “as coisas que amamos, as pessoas que amamos são eternas até certo ponto. Duram o infinito variável no limite de nosso poder de respirar a eternidade(...)” Parece meio triste, né?! Meio determinista, pessimista até. Já vi este poema com esses olhos também. Hoje não vejo mais. Realmente as coisas e pessoas duram o infinito variável no limite de nosso poder... as coisas e as pessoas vêm e vão. Mas não fazem isso impunemente. Ninguém, ninguém mesmo, que fez parte intensamente da minha vida, fez isso sem deixar em mim marcas profundas. As que ficam, também ficam pelo infinito variável no limite de nosso poder. Poder de suportar muitas coisas. Poder de suportar mudanças, poder de suportar transformações, poder de continuar trilhando o mesmo caminho por opção, e não por falta dela. Limite do nosso poder de entender que uma águia e um falcão amarrados pelo pé, nunca vão conseguir voar. Assim como nós. Só poderemos voar juntos se isso for uma escolha, um desejo. Quero te dar a mão e suportar a correnteza, as mudanças da maré. É minha opção não largar da tua mão. E tua opção não largar da minha. Mas isso também depende do infinito variável no limite de nosso poder. Larguei a mão de algumas pessoas, na correnteza. Pessoas também largaram a minha mão. E, apesar de no momento em que isso aconteceu, eu ter conseguido unicamente enxergar que minha mão estava vazia, que por ela só escorria água, hoje, depois de baixar a maré, consigo ver que ter permanecido de mãos dadas naquele momento, só teria feito com que ambos morrêssemos afogados. Ás vezes é fundamental conseguir perceber que o infinito variável no limite de nosso poder, tem que variar com o objetivo de nos fazer permanecer vivos. Queria ter tido a chance de ter dito mais vezes, enquanto a maré estava baixa, antes da correnteza, que nossas mãos juntas me fizeram ter confiança pra deixar as margens, pra me aventurar... principalmente, queria ter podido dizer mais vezes, que foi o tempo em que nossas mãos permaneceram juntas que me fez conseguir nadar sozinha depois que elas se soltaram; que foi a certeza das mãos que um dia estiveram unidas que me fez ter tido forças pra largá-las no momento certo; que nos fez continuar vivos. Acho que não tive. Ou não aproveitei o suficiente as chances que tive. Por isso esse texto hoje. Pra que essas mãos, hoje afastadas, soubessem que a união delas é que me fez assim, como eu sou hoje. O tempo que nadamos juntos está guardado na lembrança. Está marcado nas minhas mãos e na minha alma. Agora que nadamos separados, é o momento de buscar outras mãos. E de novamente exercitar continuamente o infinito variável no limite de nosso poder. Pra continuar vivos. Desejo, que não só as mãos que hoje nadam comigo, mas que as que nadam (ou que ainda estão por vir nadar) com as mãos que deixaram de nadar com as minhas, permaneçam juntas enquanto isso nos fizer viver. E que isso seja, pra nós, o poder de respirar a eternidade.
Ila - 02 de julho de 2006

28 junho 2006

bem me quer rosa
bem me quer azul
meu bem me quer de qualquer cor bonita
e no meu olho a cor
de quem sorriu
e riu e gargalhou
e rodopiou no vento mais sagrado
da memória constante
do melhor presente
o futuro

jthanxt

20 junho 2006

hj eu acordei sofrida
acordei chorada
acordei quebrada
acordei morrida
só não acordei amada
ainda

hj fui caco
à espera de cola
mas de secagem rápida
que meu tempo, pelo menos ele, é precioso
hj acreditei em mosaico

j
e eu aqui sem tulipa, rosa, flor do campo, violetinha
só no bem me quer mal me quer...
e ainda sem saber qual foi a última pétala

j

12 junho 2006


Nunca soube explicar porquê, mas eu adoro tulipas... São as minhas flores favoritas há anos. Desde sempre, eu acho. Me pergunto se seria porque, apesar de serem extremamente frágeis, ao tocá-las, percebo que sua textura é firme. Elas me passam a impressão de ser muito fortes, mesmo eu sabendo que qualquer mudança de temperatura, de ambiente ou qualquer ventinho, por mais suave que seja, pode ser fatal. Isso me faz sentir tão próxima delas... suas folhas são de espessura grossa e parecem como que “emborrachadas”. Mas ainda assim são tão suaves ao toque e não perdem a delicadeza. Elas, em si – tanto caule como as flores e folhas – não têm brilho, mas ainda assim são fascinantes e inebriam o meu olhar. Tantas contradições, não? Qualquer semelhança com a condição humana seria mera coincidência? Talvez eu goste tanto delas porque, no Brasil, são raras. E não tê-las por perto a todo o instante é que me desperta tanta “curiosidade”. Não sei. Apenas sei que elas me transmitem força, beleza, suavidade, graça, fascínio...
Elas me fazem sentir livre e serena. Me fazem sentir amada.
E pra minha surpresa, hoje, pela primeira vez, eu ganhei tulipas. E pude passar um bom tempo tentando descobrir o que me faz ser tão apaixonada por elas. Que bom que não consegui. Mas descobri que não me importa saber o que me faz ser, ou estar, apaixonada... importa saber como isso me faz bem... importa aproveitar esse sentimento que está me fazendo sentir tão forte, bela, suave, cheia de graça...
Obrigada, namorado... por me fazer sentir uma tulipa no seu jardim!
Ila - 12 de junho de 2006.

24 maio 2006

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

poema: Carlos Drummond de Andrade, No meio do caminho
ênfase: Juliana Kumbartzki

16 maio 2006

Hoje estou muito triste. Resolvi, depois de muito tempo, tentar assistir ao jornal nacional pra saber um pouco mais sobre o que está acontecendo, em São Paulo principalmente. Tentei ligar o filtro, muito necessário quando se recorre à Rede Globo, e que parece que ela já conseguiu excluir do cérebro da maioria dos brasileiros. Fiquei muito chateada. Desiludida mesmo. Frustrante perceber que não só as pessoas estão se matando desenfreadamente, mas que isso virou coisa normal. Normal mesmo. Já faz parte das nossas "normas" de convivência.... a desigualdade, a desonestidade, o descaso atingiu a todas as esferas da sociedade. Tenho muito medo. Medo de perder a fé no homem. Quando penso nisso me culpo, me condeno, porque tento me lembrar de uma frase que uma vez o Pe. Mário me disse: "Deus não teria criado o mundo se não soubesse como redimi-lo". E daí, quando penso nisso sofro mais ainda. Por nos reconhecer tão fracos, tão limitados, tão egoístas...
Estou triste. Triste de ver que os excluídos, os humilhados, os esquecidos pela "sociedade", pelo governo, pela vida enfim, pra serem ouvidos, para se sentirem incluídos, para se sentirem pertencentes a essa nossa cultura do consumo, a essa realidade de "poderes", de quereres, de futilidades, precisam, eles, tornarem-se os algozes. É triste que pra serem vistos por nós, que, se não os abandonamos ao pé da letra, nos calamos e nos omitimos frente a esse abandono. Que precisem, eles, passarem de oprimidos a opressores. De vítimas a carrascos. Isso não os exime da responsabilidade? Não. Não diminui a gravidade de seus atos? Não justifica essa violência? Certamente que não. Mas quem consegue condená-los sem olhar para o seu próprio umbigo e reconhecer a sua própria culpa? Só alguém que seja tão conivente com essa realidade. Ou tão cego que já não pode ser capaz de sequer se olhar no espelho. O que vê não pode ser a si mesmo, mas a uma máscara enrijecida e disforme de algo que não somos. De algo que não foi o que Deus criou. De algo que não é a Sua imagem e semelhança. Quantos Cristos mais serão necessários? Quantas vidas mais serão tomadas? Quantos mais irmãos teremos que dizimar para compreender que não somos nós os poderosos?
Estou triste, chateada, deprimida, envergonhada, culpada.... estou pasma. E com medo, muito medo de perder a fé na criação. E com mais medo ainda de que tudo o que eu seja capaz de fazer seja escrever, no conforto da minha casa, no meu “Personal Computer”, sabendo que, por pior que seja a minha noite de sono - por estar triste - ela acontecerá numa cama quentinha, ao lado do meu irmão, com a minha família por perto...

Senhor, perdoai-nos, nós não sabemos o que dizemos....
Ila - 16 de maio de 2006

13 maio 2006

Sei lá eu porque me deu uma vontade repentina de escrever. E nesses momentos tenho que aproveitar. Uma vontade de escrever sobre as coisas que eu desejo, as coisas que eu já conquistei, sobre as que estão longe de mim, sobre as que estão perto... De repente me deu uma vontade de mudar de geografia. De arrumar qualquer coisa pra fazer em qualquer lugar do mundo só pra sair do conforto irritante da minha casa. Mas juro que quando penso nisso, penso na saudade que sinto das pessoas que ficariam por aqui. Mas enfim... tudo isso me vem à mente aos montes. Vontade de conhecer outros lugares... outras pessoas nem tanto. Assim, inevitavelmente conheceria outras pessoas e certamente adoraria. Adoro conhecer pessoas. Mas isso não é o mais importante. Estou imensamente feliz com as pessoas que povoam a minha vida e a minha mente nesse momento. Queria tomar um café com uma boa companhia. Queria bater fotos de lugares nunca antes visitados, queria um beijo... daqueles que aquecem a alma e o coração. Que acalma e que agita. Mas também, desculpe aí, não é por isso que me deu vontade de escrever. A vontade nesse momento é uma vontade enlouquecedora de mudar. Mudar de paradigma, mudar de posição, mudar de situação... mudar de tudo. De referência. De saudade. De vida. Minha vida já ficou um pouco de ponta cabeça nas últimas semanas, mas pelo jeito ainda não foi o suficiente. Suficiente pra que? Não sei. Juro que não sei... queria uma coleção de fotos novas. Queria uma coleção de abraços novos (já conhecidos, mas pouco explorados, rss). Queria uma coleção de cachecóis, de caixinhas, de florzinhas... queria ver as coisas por outros ângulos. Queria, realmente, sair desse lugar que já está meio viciado. Queria agradecer muito por tudo que eu já tenho. Principalmente pelos meus amigos. Eles me fazem uma pessoa mais feliz. Os próximos, os distantes, os novos e os antigos. Os que permanecem e os que se foram. Todos os que de alguma maneira contribuíram pra que eu me transformasse na pessoa que sou hoje. Obrigada, queridos! Ainda bem que são muitos, os meus amigos. Quanto a isso me considero alguém de muita sorte. Que pena que só escrever não mata a minha vontade. Na verdade, só faz ela ficar maior, porque me faz pensar nela a cada palavrinha digitada. Ai! Que vontade... vontade de satisfazer as minhas vontades. O que é que me deu? De onde veio toda essa inspiração repentina? Não sei... sei que dentro de mim brigam dois sentimentos... um que agradece muito por ter encontrado um alguém que colore muito mais os meus dias. E o outro que se pergunta: e agora? o que fazer com isso? Não sei... estou feliz e triste. E esses sentimentos misturados são muito estranhos. E agora me vem a certeza de que tenho que ter fé. Porque é ela que vai me fazer entender tudo isso. Espero eu, pelo menos... é! Momento de ter fé. E de esperar... exercitar a “paz ciência”. Mas ao menos a vontade de escrever deu pra tapear. Pelo menos por enquanto...

Ila
13 V 2006

02 maio 2006

como que escamas caíram de meus olhos

que bom se verdade fosse
a imagem de meus olhos novos
tu sorris
ela sorri
nós ovacionamos
embalados no champagne de minhas lembranças futuras

que lindo se certeza fosse
de um amor doce que vive e vinga
oxalá sorriso
oxalá lágrima
música de entrada
arroz que chove numa noite de lua

que tomara se for
luz com luz
brilha consone
consome o mundo
e festeja sempre
esta data congelada
na memória do meu sonho

Juliana Kumbartzki, depois de um fim de semana memorável

two sisters

some people fade as ghosts from the memory of my retina
in the memory of others they lay
and make me believe they really are
but to me not even memories
the are not for them
less
the empty
vaccum

writing to absence
please forgive me
whoever you are not
it was never my intention
to hurt your unmemory

Voice will say it's out of spite
i only wish
but in fact it's a tribute to Amnesia
the sympathetic sister of Insomnia
the one I truly love
and can't remember if i've met

the sister, however
inebriated stalker
she loves me iknow
and seeks for my indecent companion
whenever i am in bed

go away i please please her
never remembering
she is deaf

Juliana Kumbartzki, April 20, 2006, during boring literature class

26 abril 2006

Faz tempo que não escrevo. Na verdade eu nunca escrevo. Mas hoje tava difícil escolher um texto. Eram tantos a tentar falar tudo o que eu estou sentindo que nenhum conseguiu. Aprender a viver com a falta que pessoas importantes, pilares mesmo, que fizeram parte da sua vida, da sua história, e que, por algum motivo se foram, é difícil... muito difícil... E é nessas horas que você entende que precisa tirar forças de dentro de gavetas tão profundamente escondidas que você nem lembrava que existiam. E no meio dessa dor, dessa angústia que às vezes chega a te cegar, você tem a impressão de ouvir o canto de um pássaro... ou o riso de uma criança. Mas é tão leve, tão sutil que te confunde, que te assusta. Que no meio da solidão você não sabe se ouviu mesmo ou se é só a sua imaginação. Mas mesmo assim te dá uma pontinha de desejo de que seja sim, uma chaminha. E que talvez se transforme em fogo... ou que talvez não. Que fique como está pra que não assuste mais. Afinal, pode ser mesmo só impressão. Às vezes, no escuro, o tato se engana. Daí a confusão fica completa. E essa confusão dá nó na garganta, faz chorar e faz sorrir. Faz temer e esperar, esquecer e desejar... Luiza, um dia, disse: “a vida é agridoce”... Acho que estava certa. É, como estava... Acho brega tudo o que eu escrevo. Por isso não escrevo nunca. Mas hoje, nenhum texto ia conseguir traduzir tudo o que eu tô sentindo... só o meu... mesmo brega. Talvez porque eu também seja brega. E só esteja descobrindo isso remexendo essas tão profundas gavetas...
Ila - 25 de abril de 2006

25 abril 2006

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...

Inconstância - Florbela Espanca

06 abril 2006

o Sonho

papel

o sonhador

um fraco separa os bravos
degradável entre os imortais
devo estar pesadelando

he who said love conquers all
knew shit about economy

juliana kumbartzki

19 março 2006

ai que saudade tenho de mergulhar neste prazer sincero
de libertar-me de tudo que mais desejei
e me faz feliz ainda assim
cuidado com o que deseja
ai que calor nostálgico deste sorriso solto
coraçãomente eterno e efêmero
que bom não sois fleugmática
nem eu graçasadeus
ai que vontade louca de tirar a roupa e correr por aí
gritar ao vento
este lamento claustrofobicamente seco
desespero educado e constricto
ai que tentação de ser eu
juliana kumbartzki

21 fevereiro 2006

green et vert

suddenly i'm sick
hope it'll pass
first time i allow myself to be this way
green
does it take a pill?
of what color?
i never follow doctors' recommendation anyway
so (quoting the beatles) let it be

ma français c'est terrible
mais aujourd'hui j'ai faim d'une langage que je ne comprend pas moi
pour cacher une parole
nouvelle en ma bouche
et intime de mon coeur

Juliana Kumbartzki, aujourd'hui

14 fevereiro 2006

mais um dia novo
do todo um
de tantos
único
hoje
o
aquele em que
de repente
soletro
hoje
e
sempre feliz
contigo
amo
t

juliana kumbartki, hoje

06 fevereiro 2006

eu não sou de nada
e não escrevo sobre a fome
a desconheço
e se conhecesse não escreveria
comeria o lápis
a celulose
comeria as palavras
pois todas inúteis
inertes
servem ao nada
que sou eu diante do esforço
do passo não dado
do suor não derramado
que faria o pão
que mataria a fome
que não existiria para ser escrita sobre

juliana kumbartzki, hoje

20 janeiro 2006

Na ilha por vezes habitada do que somos,
há noites, manhãs e madrugadas
em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente
e entra em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável:
o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra
onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

Na ilha por vezes habitada - José Saramago

17 janeiro 2006

"Depois que um corpo
Comporta outro corpo
Nenhum coração
Suporta o pouco"

Alice Ruiz
Dentro de nós tem uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.

José saramago - Ensaio Sobre a Cegueira

16 janeiro 2006


"Lo obsceno no es la pornografia, sino que la gente muera de hambre"
"Porn is not obscene, starvation is"
"Obsceno não é a pornografia, mas sim que as pessoas morram de fome"

José Saramago

*essa frase foi dita em um dos seus discursos, mas infelizmente não consegui encontrar a referência completa. Ainda assim gostaria de compartilhá-la. Sigo em busca da fonte exata.
"Lóri, disse Ulisses, e de repente pareceu grave embora falasse tranqüilo, Lóri: uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso."

Clarice Lispector - "Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres"

11 janeiro 2006

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


AUTOPSICOGRAFIA - Fernando Pessoa

05 janeiro 2006

deep inside i am a feline

Desculpa repetir aqui o mesmo conteúdo do flog overboeaverba, mas fiquei tão orgulhosa da minha produção de hj...

deep inside i am a feline
eating and hunting sleeping and loving
meowing for the dearest attention purring in thankful pleasure
shutting out the mediocre
I love to be alone
I hate to be lonely
I adore who deserves my love
I honor the grateful for my presence
I am loyal to whom is loyal
I am vulnerable to whom is open
to my c(rude) honesty,
to my insecurities,
to my sorrow and euphoria.
no height is too high
no opponent is too strong
I am brave
for i am not afraid to live
deep inside i am a feline
(juliana kumbartzki)


como um felino
ignoro os indignos de presença
tolero a mão que me alimenta
amo apenas quem eu amo
como um felino
ataco os ameaçadores
beijo meus devotos
caço minhas presas
como um felino
sou verdadeiro
não abano o rabo a quem me aprisiona
mas (cedoutarde) esmago sua infâmia
como um felino
sou manso entre cordeiros
e traiçoeiro entre víboras
como um felino
sou rei
sou soberano
como um felino no cio
amo em estéreo

(juliana kumbartzki)
como o fermento para o pão
assim sois vós para comigo
uma força latente
que puxa e empurra
cada qual a sua necessidade
um vento cortante
que puxa e empurra
cada qual a seu desafio
como a fêmea que pari para o rebento
assim sois vós para comigo
uma força determinada
que puxa e empurra
ora ao peito, ora à vida

juliana kumbartzki
madrugada 4-5 jan 2006

03 janeiro 2006

...feliz ano novo..

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que
daqui pra diante vai ser diferente"

Cortar o Tempo - Carlos Drummond de Andrade

01 janeiro 2006

sobre santidade


se dou pão ao pobre me chamam de santo.
se pergunto por quê o pobre não tem pão me chamam de comunista.

D. Hélder Câmara