24 maio 2006

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

poema: Carlos Drummond de Andrade, No meio do caminho
ênfase: Juliana Kumbartzki

16 maio 2006

Hoje estou muito triste. Resolvi, depois de muito tempo, tentar assistir ao jornal nacional pra saber um pouco mais sobre o que está acontecendo, em São Paulo principalmente. Tentei ligar o filtro, muito necessário quando se recorre à Rede Globo, e que parece que ela já conseguiu excluir do cérebro da maioria dos brasileiros. Fiquei muito chateada. Desiludida mesmo. Frustrante perceber que não só as pessoas estão se matando desenfreadamente, mas que isso virou coisa normal. Normal mesmo. Já faz parte das nossas "normas" de convivência.... a desigualdade, a desonestidade, o descaso atingiu a todas as esferas da sociedade. Tenho muito medo. Medo de perder a fé no homem. Quando penso nisso me culpo, me condeno, porque tento me lembrar de uma frase que uma vez o Pe. Mário me disse: "Deus não teria criado o mundo se não soubesse como redimi-lo". E daí, quando penso nisso sofro mais ainda. Por nos reconhecer tão fracos, tão limitados, tão egoístas...
Estou triste. Triste de ver que os excluídos, os humilhados, os esquecidos pela "sociedade", pelo governo, pela vida enfim, pra serem ouvidos, para se sentirem incluídos, para se sentirem pertencentes a essa nossa cultura do consumo, a essa realidade de "poderes", de quereres, de futilidades, precisam, eles, tornarem-se os algozes. É triste que pra serem vistos por nós, que, se não os abandonamos ao pé da letra, nos calamos e nos omitimos frente a esse abandono. Que precisem, eles, passarem de oprimidos a opressores. De vítimas a carrascos. Isso não os exime da responsabilidade? Não. Não diminui a gravidade de seus atos? Não justifica essa violência? Certamente que não. Mas quem consegue condená-los sem olhar para o seu próprio umbigo e reconhecer a sua própria culpa? Só alguém que seja tão conivente com essa realidade. Ou tão cego que já não pode ser capaz de sequer se olhar no espelho. O que vê não pode ser a si mesmo, mas a uma máscara enrijecida e disforme de algo que não somos. De algo que não foi o que Deus criou. De algo que não é a Sua imagem e semelhança. Quantos Cristos mais serão necessários? Quantas vidas mais serão tomadas? Quantos mais irmãos teremos que dizimar para compreender que não somos nós os poderosos?
Estou triste, chateada, deprimida, envergonhada, culpada.... estou pasma. E com medo, muito medo de perder a fé na criação. E com mais medo ainda de que tudo o que eu seja capaz de fazer seja escrever, no conforto da minha casa, no meu “Personal Computer”, sabendo que, por pior que seja a minha noite de sono - por estar triste - ela acontecerá numa cama quentinha, ao lado do meu irmão, com a minha família por perto...

Senhor, perdoai-nos, nós não sabemos o que dizemos....
Ila - 16 de maio de 2006

13 maio 2006

Sei lá eu porque me deu uma vontade repentina de escrever. E nesses momentos tenho que aproveitar. Uma vontade de escrever sobre as coisas que eu desejo, as coisas que eu já conquistei, sobre as que estão longe de mim, sobre as que estão perto... De repente me deu uma vontade de mudar de geografia. De arrumar qualquer coisa pra fazer em qualquer lugar do mundo só pra sair do conforto irritante da minha casa. Mas juro que quando penso nisso, penso na saudade que sinto das pessoas que ficariam por aqui. Mas enfim... tudo isso me vem à mente aos montes. Vontade de conhecer outros lugares... outras pessoas nem tanto. Assim, inevitavelmente conheceria outras pessoas e certamente adoraria. Adoro conhecer pessoas. Mas isso não é o mais importante. Estou imensamente feliz com as pessoas que povoam a minha vida e a minha mente nesse momento. Queria tomar um café com uma boa companhia. Queria bater fotos de lugares nunca antes visitados, queria um beijo... daqueles que aquecem a alma e o coração. Que acalma e que agita. Mas também, desculpe aí, não é por isso que me deu vontade de escrever. A vontade nesse momento é uma vontade enlouquecedora de mudar. Mudar de paradigma, mudar de posição, mudar de situação... mudar de tudo. De referência. De saudade. De vida. Minha vida já ficou um pouco de ponta cabeça nas últimas semanas, mas pelo jeito ainda não foi o suficiente. Suficiente pra que? Não sei. Juro que não sei... queria uma coleção de fotos novas. Queria uma coleção de abraços novos (já conhecidos, mas pouco explorados, rss). Queria uma coleção de cachecóis, de caixinhas, de florzinhas... queria ver as coisas por outros ângulos. Queria, realmente, sair desse lugar que já está meio viciado. Queria agradecer muito por tudo que eu já tenho. Principalmente pelos meus amigos. Eles me fazem uma pessoa mais feliz. Os próximos, os distantes, os novos e os antigos. Os que permanecem e os que se foram. Todos os que de alguma maneira contribuíram pra que eu me transformasse na pessoa que sou hoje. Obrigada, queridos! Ainda bem que são muitos, os meus amigos. Quanto a isso me considero alguém de muita sorte. Que pena que só escrever não mata a minha vontade. Na verdade, só faz ela ficar maior, porque me faz pensar nela a cada palavrinha digitada. Ai! Que vontade... vontade de satisfazer as minhas vontades. O que é que me deu? De onde veio toda essa inspiração repentina? Não sei... sei que dentro de mim brigam dois sentimentos... um que agradece muito por ter encontrado um alguém que colore muito mais os meus dias. E o outro que se pergunta: e agora? o que fazer com isso? Não sei... estou feliz e triste. E esses sentimentos misturados são muito estranhos. E agora me vem a certeza de que tenho que ter fé. Porque é ela que vai me fazer entender tudo isso. Espero eu, pelo menos... é! Momento de ter fé. E de esperar... exercitar a “paz ciência”. Mas ao menos a vontade de escrever deu pra tapear. Pelo menos por enquanto...

Ila
13 V 2006

02 maio 2006

como que escamas caíram de meus olhos

que bom se verdade fosse
a imagem de meus olhos novos
tu sorris
ela sorri
nós ovacionamos
embalados no champagne de minhas lembranças futuras

que lindo se certeza fosse
de um amor doce que vive e vinga
oxalá sorriso
oxalá lágrima
música de entrada
arroz que chove numa noite de lua

que tomara se for
luz com luz
brilha consone
consome o mundo
e festeja sempre
esta data congelada
na memória do meu sonho

Juliana Kumbartzki, depois de um fim de semana memorável

two sisters

some people fade as ghosts from the memory of my retina
in the memory of others they lay
and make me believe they really are
but to me not even memories
the are not for them
less
the empty
vaccum

writing to absence
please forgive me
whoever you are not
it was never my intention
to hurt your unmemory

Voice will say it's out of spite
i only wish
but in fact it's a tribute to Amnesia
the sympathetic sister of Insomnia
the one I truly love
and can't remember if i've met

the sister, however
inebriated stalker
she loves me iknow
and seeks for my indecent companion
whenever i am in bed

go away i please please her
never remembering
she is deaf

Juliana Kumbartzki, April 20, 2006, during boring literature class