25 julho 2006

a esperança não é uma palavra
é uma promessa
uma deidade de semi-certeza
e suspiros
e sonhos
e algodão doce

é a anti-matéria
feito sorvete abrindo espaço
na pança repleta

é gravidade zero
é travesseiro de plumas
é banho de espuma

a esperança não é a última que morre
é a primeira que nasce
e fênix que renasce

é gás nobre que preenche o espaço
entre tu e eu
entre nós e o mundo
a esperança não é uma palavra
é uma ponte

j

11 julho 2006

o meu sentir é um espasmo involuntário
sinto tudo
sinto todo
e meu corpo trôpego
pulsa a caimbra
de antena
que capta
absorve
incorpora o etéreo
olho grita
boca chora
materializa
o eu emtrês sou uma
acordo trêmula
mas viva

(e o pulso ainda pulsa e o penso ainda pensa e a alma ainda almeja)
j

10 julho 2006

(meus alunos do ano passado, do bairro da Tapera no Sul da Ilha, durante um passeio no Parque Ecológico do Córrego Grande)



Ultimamente tenho me sentido “colocada à prova” todos os dias. Não sei bem como explicar o que estou querendo dizer. Sei apenas que tenho ainda muito o que aprender. Tenho muito o que ler, saber e refletir sobre a realidade do meu povo, do meu país, e principalmente das minhas idéias.

Nasci em uma família esquisita. Acho que todas as famílias são esquisitas, em maior ou menor grau. Mas de alguma forma meus pais me passaram alguns valores dos quais não consigo, e nem quero, me desvencilhar. Me ensinaram que eu devia “fazer o bem sem olhar a quem”, que devia aprender a ter opiniões formadas sobre tudo o que via ou lia, que ser “marginal”, estar “à margem”, nem sempre quer dizer ser “criminoso”.

Também estou desiludida com o atual governo. Também fico me perguntando o que aconteceu com todos os meus sonhos, a minha fé e a minha “esperança de vencer o medo”. Estou decidida a votar nulo nessa eleição. Porque acredito que pelo menos a minha consciência ninguém pode me tirar. Por mais decepcionada que possa estar, ainda não consigo me arrepender de desde sempre ter sido eleitora do PT.

Estive lendo o blog do jornalista Reinaldo Azevedo. “A vanguarda da direita”. E por mais que tenha me sentido uma estúpida por não conseguir formular nenhuma frase inteligente pra postar no seu blog, dizendo o quanto o acho [pausa... não encontro adjetivo que não seja ofensivo] senti uma necessidade absurda de reencontrar as minhas raízes.

Quando penso no rumo que quero para o meu país, não consigo pensar em outra coisa senão nos movimentos sociais, nas lutas de base, no contato direto com o povo. Ok, já entendi que o povo não toma as rédeas da situação se não por intermédio dos “intelectuais da classe média burguesa”. Mas se essa classe média burguesa está preocupada em promover a vida do povo, é com ela que eu estou. É do lado do Frei Betto, é do lado do MLST, é do lado do Movimento Sem-Teto, da Via Campesina. Estou do lado dos ataques à Aracruz. Estou do lado dos manifestantes que quebraram ônibus. Sim! Eu aprendi que às vezes é necessário estar à margem. Nas minhas veias corre um sangue que não acredita na elite, que não acredita na direita, que não acredita no capitalismo. Sei que pode parecer um tanto hipócrita essa minha afirmação considerando que, quem me conhece um pouquinho só sabe que sou viciada em Coca-Cola. Feio, né? Sim, horrível. Financiadora da Guerra do Iraque. Talvez depois de escrever esse texto eu sinta tanta vergonha que não tenha mais coragem de beber sangue iraquiano engarrafado.

Mas ainda assim eu preciso voltar ao que acredito. Eu preciso voltar no tempo, quando tinha meus 15 anos e li pela primeira vez a carta que uma prima minha (mais velha um pouco, prima da minha mãe, na verdade) escreveu, em 1972, de dentro do Pavilhão Feminino do Presídio Tiradentes, onde estava presa e havia sido torturada mais de uma vez, por acreditar que a forma como a classe dominante, a “democracia cristã”, como ela mesma coloca, levava o nosso país ao “progresso” alijava o povo brasileiro de qualquer decisão e perspectiva de futuro. Acho que foi ali que alguma coisa dentro de mim mudou de cor. E desde então eu não consigo acreditar que a “direita” desse país possa ter boas intenções quanto ao futuro do seu povo.

A realidade dos meus alunos, jovens e adultos excluídos da sociedade, os marginais, que não aparecem nos posts de um Reinaldo Azevedo, que só aparecem nos jornal nas páginas policiais (não, ninguém imagina como doeu meu coração quando vi a foto de um dos meus melhores alunos preso por porte de drogas e armas) me faz ter cada vez mais certeza disso. É mais fácil criticar o governo do que olhar de perto o que acontece com o povo. Não venha me dizer que era neles, nos meus alunos, que o Reinaldo Azevedo estava pensando quando “denunciava” que o patrimônio do Lula, do Marcus Valério ou do José Dirceu dobrou nos últimos quatro anos. (Reinaldo Azevedo é um. Foi o que deu azar de desencadear tudo o que eu estou sentindo. Da página dele fui abrindo muitas outras que só me deram mais medo e raiva...)

Não tenho as respostas, muito menos as soluções. Não tenho grandes vocabulários ou grandes argumentos fantásticos pra contrapor a notável inteligência de um Reinaldo Azevedo. Sim, é inegável, ele é muito inteligente e realmente escreve muito bem. Mas sei, porque meu coração me garante, e porque a realidade salta aos meus olhos cada vez que entro nas minhas salas de aula, que essa inteligência não advoga em favor do povo. E isso é o que mais me entristece. Sinto que estas pessoas são muito mais competentes em fazer valer a sua “política”. A direita trabalha – e isso é histórico, sempre trabalhou – muito melhor. E eu realmente acredito que é por isso que hoje esse país está do jeito que está. Longe de mim vestir o Lula e o PT com um manto de idoneidade e inocência. Muito menos de bondade. Aliás, eles só comprovam o que eu falei logo acima: a esquerda, infelizmente, é muito mais incompetente que a direita. Tanto que eu nem sei se já não se extinguiu.

Num país como o nosso é muito difícil definir em que posição eu me encaixo, pois nenhuma delas faz o que prega. Mas sei que eu estou na posição de alguém que verdadeiramente espera nunca precisar cogitar a hipótese de dar um voto de confiança para a “elite” brasileira. Tomara que eu nunca morda a minha língua.


Sugiro o sítio: http://www.adital.com.br
Ila - 10 de julho de 2006

03 julho 2006

aos que amei

Hoje eu queria escrever um texto especial. Para pessoas que, por diferentes motivos, não estão fazendo parte da minha vida neste momento... tenho me dado conta de que a vida é assim; cíclica, dinâmica. As pessoas, as coisas, vão e vêm. Como diria Drummond, “as coisas que amamos, as pessoas que amamos são eternas até certo ponto. Duram o infinito variável no limite de nosso poder de respirar a eternidade(...)” Parece meio triste, né?! Meio determinista, pessimista até. Já vi este poema com esses olhos também. Hoje não vejo mais. Realmente as coisas e pessoas duram o infinito variável no limite de nosso poder... as coisas e as pessoas vêm e vão. Mas não fazem isso impunemente. Ninguém, ninguém mesmo, que fez parte intensamente da minha vida, fez isso sem deixar em mim marcas profundas. As que ficam, também ficam pelo infinito variável no limite de nosso poder. Poder de suportar muitas coisas. Poder de suportar mudanças, poder de suportar transformações, poder de continuar trilhando o mesmo caminho por opção, e não por falta dela. Limite do nosso poder de entender que uma águia e um falcão amarrados pelo pé, nunca vão conseguir voar. Assim como nós. Só poderemos voar juntos se isso for uma escolha, um desejo. Quero te dar a mão e suportar a correnteza, as mudanças da maré. É minha opção não largar da tua mão. E tua opção não largar da minha. Mas isso também depende do infinito variável no limite de nosso poder. Larguei a mão de algumas pessoas, na correnteza. Pessoas também largaram a minha mão. E, apesar de no momento em que isso aconteceu, eu ter conseguido unicamente enxergar que minha mão estava vazia, que por ela só escorria água, hoje, depois de baixar a maré, consigo ver que ter permanecido de mãos dadas naquele momento, só teria feito com que ambos morrêssemos afogados. Ás vezes é fundamental conseguir perceber que o infinito variável no limite de nosso poder, tem que variar com o objetivo de nos fazer permanecer vivos. Queria ter tido a chance de ter dito mais vezes, enquanto a maré estava baixa, antes da correnteza, que nossas mãos juntas me fizeram ter confiança pra deixar as margens, pra me aventurar... principalmente, queria ter podido dizer mais vezes, que foi o tempo em que nossas mãos permaneceram juntas que me fez conseguir nadar sozinha depois que elas se soltaram; que foi a certeza das mãos que um dia estiveram unidas que me fez ter tido forças pra largá-las no momento certo; que nos fez continuar vivos. Acho que não tive. Ou não aproveitei o suficiente as chances que tive. Por isso esse texto hoje. Pra que essas mãos, hoje afastadas, soubessem que a união delas é que me fez assim, como eu sou hoje. O tempo que nadamos juntos está guardado na lembrança. Está marcado nas minhas mãos e na minha alma. Agora que nadamos separados, é o momento de buscar outras mãos. E de novamente exercitar continuamente o infinito variável no limite de nosso poder. Pra continuar vivos. Desejo, que não só as mãos que hoje nadam comigo, mas que as que nadam (ou que ainda estão por vir nadar) com as mãos que deixaram de nadar com as minhas, permaneçam juntas enquanto isso nos fizer viver. E que isso seja, pra nós, o poder de respirar a eternidade.
Ila - 02 de julho de 2006